Durante o mês de maio, uma série de imagens revelou ao Brasil e ao mundo um cenário de devastação e ruína. As enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul abasteceram, a contragosto, um repertório impensável de cenas. No entanto, enquanto esta reportagem é lida, outras imagens atenuantes estão sendo criadas, ainda que, ambiguamente, tragam em si a marca de um trajeto enlamaçado.
Em diversos lugares do Estado, milhares de documentos, vinis, livros, desenhos, fotografias, peças artísticas e uma infinidade de materiais encharcados estão secando em um varal, entre folhas de guardanapo ou sobre o chão e alguns móveis. Eles estão sendo higienizados, contabilizados, recuperados.
No município de Igrejinha, por exemplo, assim que foi possível transitar pelas ruas, um grupo de voluntárias saiu em busca do acervo do Museu Municipal Professor Gustavo Adolfo Koetz. "A parede do arquivo histórico municipal foi levada e não sobrou nada", relata a museóloga Daniela Schmitt, que também contou com o trabalho da historiadora Alice Braunn e da estudante de História Eduarda Farias da Silva, entre outras profissionais. Alguns itens foram encontrados nas redondezas do terreno do museu, na beira do rio e no pátio de casas. "A gente acredita ter encontrado, talvez, 1% do acervo."
As primeiras semanas foram de dedicação exclusiva às ações emergenciais, da manhã à noite. Agora, o material está sendo organizado e documentado. A museóloga disse ter contado com o apoio e suporte da prefeitura e do Sistema Estadual de Museus (SEM/RS), que está realizando uma série de visitas para verificar a realidade das instituições impactadas e realizar ações de apoio. De qualquer maneira, avalia a situação como crítica. Daniela defende a importância do patrimônio histórico e cultural. "A gente precisa saber de onde vem, para conseguir olhar para onde vai. O que vai ser das crianças? O que vai ser da nossa cidade sem esses espaços culturais que são tão importantes para percebermos a sociedade, a sua memória e a sua identidade?"
Apesar da perícia dos profissionais, em muitos municípios o trabalho de voluntários se dá em condições improvisadas: acervo comprometido, coberto de lama, fungos, cheiro de mofo. "É um trabalho que exige muito, mentalmente e fisicamente. A gente precisa pensar nas medidas de prevenção para não se contaminar", observa Daniela, que teve, junto à equipe, equipamento de proteção, como máscara, luva, óculos e galocha à disposição.
O trabalho também está sendo exaustivo em Montenegro, outro município atingido pelas enchentes. Ali, entre os voluntários, está a museóloga Tania Regina Cappra, que trabalhou no Arquivo Histórico e Geográfico Maria Eunice Müller Kautzmann, organizando o salvamento inicial, a secagem e demais cuidados. Entre os itens, documentos, mapas, plantas arquitetônicas e fotografias molhadas. “Uma situação caótica, ao primeiro olhar. Avaliei como e o que poderíamos fazer e comecei a agir com o que se tinha à mão”. E assim, conta Tânia, desde o dia 4 de maio, os envolvidos se empenharam diariamente, realocando pastas e livros entrefolhados com papel absorvente nas salas do museu, para que pudessem secar com auxílio de ventiladores e desumidificadores.
Um resgate de identidade
Mesmo com precauções, parte dos documentos e acervo do Margs acabou tendo contato com água dos alagamentos
THAYNÁ WEISSBACH/JCDias antes das águas do Guaíba alcançarem a Praça da Alfândega, em Porto Alegre, no dia 3 de maio, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) já havia implementado um protocolo de segurança. A equipe organizou uma força-tarefa, realocando algumas obras do acervo e documentos para os andares superiores do prédio. Entretanto, como comunicou a direção da instituição, as águas acabaram invadindo o térreo do museu, onde está localizada a operação administrativa, os equipamentos e a estrutura de funcionamento do prédio, como a rede elétrica, de telefonia TI e o sistema de climatização. Além disso, documentos administrativos, gravuras, fotografias e desenhos não conseguiram escapar.
Por isso, está em andamento um plano de recuperação de danos. Fazem parte dele professores e alunos do Curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e integrantes da Associação para a Preservação do Patrimônio das Américas. Também participam servidores da Sedac – com parte da equipe de diferentes setores do Margs, do Museu de Arte Contemporânea do RS (Macrs), servidores do Palácio Piratini e voluntários externos.
A conservadora-restauradora do Departamento de Conservação e Memória do Patrimônio Cultural do Complexo do Piratini e coordenadora do plano de recuperação do Estado, Isis Fófano Gama, explica que apenas ao final do processo de sistematização dos registros das obras será possível fazer um levantamento de quantas estão sendo recuperadas. Após essa etapa do salvamento dos acervos, prevista até que este esteja estabilizado e devidamente tratado contra microrganismos, serão feitos os laudos técnicos do estado de conservação. Em seguida, esclarece Isis, as obras serão encaminhadas para a restauração. “Estamos prevendo um acordo de cooperação com a UFPel para tratamento de parte do acervo, a outra parte planejamos a contratação de especialistas”.
Para Isis, as enchentes e as suas consequências para profissionais da Museologia, Arquivologia e Restauro serão marcantes. “A atuação destes profissionais atende não somente as demandas mais comuns da conservação e restauração e museologia, mas, também, a elaboração de planos museológicos e de gestão de risco, por exemplo, que muitas vezes não são consideradas prioridade”.
Prudência e estratégia
Obras recuperadas da enchente, que antes estavam no subsolo do Margs, estão secando em andares superiores
THAYNÁ WEISSBACH/JCRespeitar as etapas do processo de salvamento de arquivos e acervos é fundamental e, em algumas situações, elas podem definir se o material em questão poderá ser recuperado ou não. A coordenadora do Sistema Estadual de Museus do Rio Grande do Sul (SEM/RS), Dóris Couto, recomenda que os resgates devem ser feitos após a água baixar. Enquanto o nível estiver alto, cobrindo o pé, corre-se o risco de pisar em peças dos acervos, já que eles se deslocam na água. Nestas condições, "estamos sujeitos a pisar em uma fotografia ou documento importante, de tropeçar em uma cerâmica. E o dano que a água não causou anteriormente acaba sendo provocado justamente pela tentativa de retirar a peça da água", alerta.
Dóris, que também é diretora do Museu Julio de Castilhos, em Porto Alegre, ressalta que é fundamental considerar as condições do prédio onde será feito o resgate. “Não é só retirar. Primeiro, preciso saber para onde eu levo (os itens). Depois, antes de acessar o local, verificar se é seguro. Terceiro, a retirada cautelosa das peças, desempilhando das mais pesadas às mais leves, alocá-las em um lugar seguro e fazer a higienização, tão logo seja viável, daquelas que exigem essa etapa imediata.”
Voluntários que se ofereceram a ajudar receberam orientações como essas. Após algumas instituições criarem formulários para inscrições, foram promovidos eventos de capacitação online, além de orientações por vídeo-chamadas e trocas de mensagens, procedimento que ainda está sendo adotado. O Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (Apers) também fez essa chamada a profissionais e a estudantes de áreas afins interessados em contribuir. A diretora do Apers, Aerta Moscon, conta que mais de 700 pessoas se voluntariaram para o resgate dos acervos atingidos pelos alagamentos. O trabalho iniciou no dia 15 de maio e, no momento, não há data definida para novas capacitações.
O órgão está resgatando documentos pertencentes às secretarias do Poder Executivo do Estado e dos arquivos municipais que aderiram ao Sistema de Arquivos do Estado do Rio Grande do Sul (SIARQ/RS). "O cenário é catastrófico, pois, se não recuperarmos esses acervos, o Estado ficará sem uma parte significativa de sua história. Além disso, é crucial destacar que esses documentos são garantias dos direitos dos cidadãos", ressalta Aerta.
Uma corrida contra o tempo
Itens danificados do Museu Prof. Gustavo Adolfo Koetz, em Igrejinha, estão em processo de recuperação
MOVIMENTO CURADORIA E PROJETOS CULTURAIS/DIVULGAÇÃO/JCÉ de São Paulo que a conservadora-restauradora de papéis, Fernanda Auada, auxilia voluntários do Rio Grande do Sul. "É bastante difícil para quem está longe. Dá vontade de correr para aí e atuar junto. Há que se pensar muito rapidamente nas melhores soluções com os materiais, pessoas e espaço de trabalho que existem", explica a restauradora, que presta orientações a três grupos em um aplicativo de troca de mensagens.
Fernanda observa que são poucas pessoas fazendo os trabalhos de resgate ou secagem, e defende a necessidade de equipes maiores. Durante o acompanhamento que faz, comenta que os voluntários trabalham em locais úmidos, sob o risco de encontrar animais peçonhentos. "As pessoas que estão na linha de frente deste trabalho com os acervos estão se dedicando ao máximo, trabalhando muitas horas seguidas, com pouco descanso. Porque agora é uma grande corrida contra o tempo. Assim que é possível entrar no edifício, as ações devem ser imediatas para evitar a progressão de danos".
Não restam dúvidas de que o trabalho de resgate e de restauração seguirá por um longo período. Para se ter uma ideia, em 1966, as chuvas intensas que caíram sobre Florença, na Itália, resultaram na enchente do Rio Arno, que alcançou quase seis metros de altura inundando a cidade. Entre os lugares atingidos, museus, igrejas e bibliotecas. Um impacto de grandes proporções, visto que Florença reúne importantes coleções de arte do Renascimento. Após décadas, Fernanda conta que o trabalho continua por lá, pois ainda há material aguardando restauro.
Fernanda se une ao coro que defende a urgente valorização do patrimônio, sobretudo diante das mudanças climáticas. Ela esclarece que, ao adotar o plano gestão de riscos, as instituições identificam os riscos presentes, as suas fontes, a probabilidade de ocorrerem e o quanto destruiriam as obras. "São pouquíssimas organizações brasileiras que desenvolveram um plano de risco. Quando implementados, eles preveem treinamentos e simulações de sinistros, para deixar as equipes afiadas quando precisarem agir. Com isso, certamente, muita coisa poderia ter sido recuperada (no Rio Grande do Sul)".
O socorro ao setor cultural
Centenas de itens do Arquivo Histórico e Geográfico Maria Eunice Müller Kautzmann, em Taquara, passam por minucioso processo de secagem
TÂNIA CAPPRA/DIVULGAÇÃO/JCEm razão das enchentes, a Secretaria de Cultura do Estado já havia antecipado processos de pagamento de recursos para projetos aprovados na Lei Paulo Gustavo, flexibilizado prazos e normas para projetos culturais durante o estado de calamidade e mobilizado uma força-tarefa para recuperar museus.
No final da primeira semana de junho, o governo do Rio Grande do Sul anunciou, por meio do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul), a destinação de R$ 25 milhões para o setor cultural. Destes, R$ 15 milhões são para a recuperação dos espaços físicos culturais do Museu de Arte do RS (Margs), o Memorial do Rio Grande do Sul, o Museu de Comunicação Hipólito José da Costa (MuseCom), a Casa de Cultura Mário Quintana (CCMQ) e a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), todos em Porto Alegre. O Museu Estadual do Carvão, em Arroio dos Ratos, também será contemplado. O montante também contemplará um festival, para socorrer artistas, e um edital de patrocínios para projetos.
A secretária estadual de Cultura, Beatriz Araújo, informa que o Sistema Estadual de Cultura está realizando um mapeamento de instituições culturais que sofreram impacto em todos os municípios do Estado. Espaços de Canoas, Lajeado, São Leopoldo e outras localidades impactadas já receberam atenção e novas visitas estão agendadas para municípios do Vale do Rio Taquari.
É unânime entre os envolvidos no resgate e restauro de arquivos e acervos de que o trabalho voluntário feito até agora não se sustentará por muito tempo. Em resposta, Beatriz Araújo diz que “a tragédia redimensiona um novo olhar para a efetividade de um Sistema Nacional de Cultura, para a sua funcionalidade, com responsabilidades bem definidas entre os entes federados”. Neste contexto, ela informa que um conjunto integrado de ações está em curso.
A intenção é de que as ações de recuperação das instituições da Sedac anunciadas pelo Banrisul abram caminho para que o governo federal viabilize ações de recuperação em municípios que não possuem orçamento para suas estruturas. A secretária explica que, por meio dessa articulação, o governo federal, através da Lei Rouanet, e o governo estadual, por meio do Pró-Cultura, podem viabilizar financiamento para ações de apoio aos municípios. “Além do acompanhamento e orientações a prefeitos e dirigentes municipais de cultura, a Sedac atua no monitoramento do patrimônio em risco e no suporte ao resgate de acervos”.
Sabe-se que a ocorrência de eventos climáticos extremos será cada vez mais frequente. Diante disso, seria preciso o alinhamento de uma agenda que estimule e concilie a cultura material e imaterial com as pautas do meio ambiente, assim como a articulação das secretarias da cultura com as demais. Em resposta, Beatriz Araújo fala que a Sedac tem procurado atuar de forma conjunta e transversal com outras secretarias, como a de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sict), da Educação (Seduc) e do Meio Ambiente (Sema).
Ela anuncia outras ações que devem ser colocadas em prática ainda neste ano, como o seminário internacional Cultura e Antropoceno, que será sediado na Casa de Cultura Mario Quintana. "Os detalhes ainda estão sendo definidos, mas já posso adiantar que o evento contará com pesquisadores da comunidade científica, que dialoguem com autores e artistas cuja produção e atuação também se dê por essa linha."
"É preciso atuar cada vez mais de modo preventivo"
Processo de secagem requer paciência, mas é fundamental para salvar itens
APERS/DIVULGAÇÃO/JCDesde que as enchentes revelaram os seus efeitos sobre o Estado, a coordenadora do Sistema Estadual de Museus do Rio Grande do Sul, Dóris Couto, orienta grupos de voluntárias e voluntários envolvidos no resgate de arquivos e acervos atingidos pela água e pela lama. Dóris, que é, também, diretora do Museu Julio de Castilhos, de Porto Alegre, compartilha nesta entrevista alguns desafios que os profissionais da área da museologia, biblioteconomia, conservação e restauro estão enfrentando, além de destacar a necessidade de implementação de projetos de prevenção.
JC - Você mencionou em um evento online de capacitação para voluntários que poucos municípios contam com arquivistas, bibliotecários e museólogos. A que se deve este cenário e de que forma ele compromete o trabalho de força-tarefa que está sendo feito?
Dóris Couto - Infelizmente, em uma parte significativa dos nossos municípios é mais comum ter bibliotecário, mas não é regra. Museólogo é raríssimo e arquivista idem. Então, a gente pode observar que nos lugares, inclusive em que os salvamentos iniciaram, é onde nós tínhamos esses profissionais na linha de frente, especialmente museólogos. Esses profissionais acabam fazendo muita diferença no procedimento emergencial, porque contam com uma formação multidisciplinar, têm informações e orientações do que fazer e também do que não fazer.
JC - Este cenário de carência de profissionais se reflete em outros estados?
Dóris Couto - Ela é histórica, e não apenas no Rio Grande do Sul, é a nível nacional mesmo. Algumas profissões regulamentadas e profissões relativamente novas, como a de museólogo, aqui no Rio Grande do Sul, especialmente, faz com que ainda os municípios não entendam esses profissionais como necessários. Mas é justamente neste momento, em que uma tragédia sobre a memória e a identidade das populações locais também se sobressai para além da tragédia humana, que a gente vê a falta que esses profissionais fazem e a diferença de suas atuações quando estão em campo.
É necessário repensar isso, como essas instituições se organizam nos espaços do nosso território, como elas passarão a se organizar e a contar com um corpo técnico mais preparado. Também não basta ter o museólogo, o arquivista ou o bibliotecário, é preciso ter um plano de contingência para o caso de haver um alagamento, uma infiltração por uma calha que não deu conta da quantidade de chuvas, acabou provocando transbordamento e atingindo qualquer dessas tipologias de acervo.
JC - É possível prevenir, garantir a segurança ou amenizar os danos de eventos climáticos específicos que atingem determinadas regiões?
Dóris Couto - Há uma série de normas, que vêm sendo tratadas e orientadas por uma série de organismos internacionais, e que cada vez mais é preciso que sejam postas em prática. O que acontece é que, entre aquilo que a ciência pode oferecer e aquilo que a vida prática das instituições oportuniza executar, há um abismo gigantesco. Não é mais possível que se atue sobre o acervo que está de molho na água, que está sob a lama, ou sobre aquele que acabou sendo acometido pelo fogo ou por uma infiltração de telhado, por exemplo. A gente tem que atuar cada vez mais de modo preventivo.
Sabemos que há aspectos fundamentais da vida da população que são tratados, e não poderia ser de outro modo, com prioridade. Temos, via de regra, a recuperação urgente e primeira dos hospitais e unidades de saúde, das moradias das pessoas ou dos alojamentos temporários, as escolas sendo tratadas na sequência. Os ambientes de comércio e recuperação da economia. E lá, bem no finalzinho da fila, nós teremos os equipamentos de cultura, e dentre os equipamentos de cultura, museus e arquivos vão mais para o final.
É preciso que a gente comece a pensar de modo diferente esse tratamento, e o quanto, efetivamente, nós vamos nos dedicar a salvar e a preservar memória e identidade das nossas regiões, das nossas cidades, enfim. É um processo longo, demorado, de convencimento, que demanda orçamento também, porque em algumas situações a recomendação será trocar o equipamento, o museu, o arquivo, a biblioteca de lugar. É a única coisa que poderá salvar.
Rede de cooperação e mapeamento
Estudantes voluntários da UfPel atuam para recuperar acervo do Margs
THAYNÁ WEISSBACH/JCNa segunda quinzena de maio, o Ministério da Cultura (MinC) anunciou a criação de uma Rede para Mapeamento e Recuperação do Patrimônio Material, Acervos Museais e Arqueológicos e Arquivos no Rio Grande do Sul. Mais de 80 representações, entre poder executivo federal, estadual e municipal, além das universidades, conselhos profissionais e organismos internacionais já se reuniram. O trabalho dos envolvidos, por ora, é voluntário.
As etapas e o cronograma dos trabalhos ainda não foram estipulados em razão do estado de calamidade de muitos municípios, já que o nível da água precisou baixar. Somente com a situação estabilizada foi possível ingressar nos imóveis e identificar os danos. É o que explica o secretário-executivo do MinC, Márcio Tavares. Ele acrescenta que o mapeamento está em curso, e será indispensável para entender o tamanho do dano e dos esforços necessários para a recuperação.
A rede, que está em fase de formalização, é coordenada por um comitê de governança, comporto pelo MinC, Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Arquivo Nacional, Governo do Estado do Rio Grande do Sul e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Os grupos de trabalho são quatro: Patrimônio Histórico, Arqueologia, Acervos e Arquivo.
A intenção é de que a rede se estenda para ser um grupo permanente de apoio e prevenção, com expertise para que possa também ter alcance nacional. Assim, conforme Tavares, o grupo teria condições de "auxiliar em outras demandas de emergências e desastres que afetem os trabalhadores da cultura e os nossos patrimônios culturais e históricos".
Ainda não se tem uma ideia do valor necessário para a etapa de reconstrução dos equipamentos culturais. Antes, explica Tavares, é preciso concluir o mapeamento dos danos. "As ações de restauração são complexas e minuciosas e certamente demandarão atuação conjunta dos órgãos públicos, financiamentos, patrocínios e cooperação internacional. Mas, como já reiterado pelo presidente Lula e a ministra Margareth Menezes, não faltarão recursos para o Rio Grande do Sul", assegura.
* Priscila Ferraz Pasko é escritora, jornalista freelancer na área cultural e graduanda no Bacharelado em História da Arte (Ufrgs). É autora do livro de contos Como se mata uma ilha (Zouk, 2019) – Prêmio Açorianos 2020 na categoria conto.
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