16 de junho de 2024

Alagamento da Câmara de Porto Alegre destruiu arquivos históricos

 

Alagamento da Câmara de Porto Alegre destruiu arquivos históricos

Primeiro piso do prédio foi totalmente atingido pelas enchentes de maio e as atividades só deverão voltar à normalidade após o recesso, em previsão otimista

Rafael Renkovski




Arquivos históricos do Legislativo estão armazenados e aguardam ações para serem recuperados 

Palco de importantes decisões da política municipal, a Câmara de Vereadores de Porto Alegre é sediada no Palácio Aloísio Filho, localizado na avenida Loureiro da Silva, desde 1986, quando foi inaugurado na data em que se celebrava o centenário do Dia do Trabalhador. Momentos tensos estão presentes no cotidiano democrático da Casa, mas um dos mais críticos, no entanto, é vivido atualmente, após os impactos das enchentes de maio deste ano nas estruturas do prédio e na rotina do Legislativo.

Na entrada pelo pórtico principal onde está escrito “Câmara Municipal”, os arbustos exibem o nível a que a água chegou na região em maio, com uma pequena parte verde restante entre o marrom da lama. “Nunca imaginei que a água entraria nas dependências da Câmara”, comenta o atual presidente, vereador Mauro Pinheiro (PP), que cumpre o seu quarto mandato. E entrou. O primeiro piso foi totalmente atingido pela força das chuvas e, para a recuperação, será necessária a realização de uma reforma geral, principalmente nas diversas salas do andar. Entre outros, os setores da taquigrafia e dos serviços de atividades complementares, que ali estão, se encontram com as mesas empilhadas, com o piso flutuante quebrado e com os móveis de madeira mofados. O cheiro, que já foi pior, como contam os funcionários, impregna o local.

Parte escura dos arbustos na entrada da Câmara de Porto Alegre mostra a altura a que a água chegou Parte escura dos arbustos na entrada da Câmara de Porto Alegre mostra a altura a que a água chegou | Foto: Ricardo Giusti

VEJA TAMBÉM

Cláudia Helena da Cunha Inácio chefia a seção do memorial da Casa. No dia 5 de maio, em um domingo atípico de sol em meio ao caos que se instaurava em Porto Alegre, ela pegou uma bicicleta e foi, sozinha, tentar salvar o máximo possível do acervo instalado na sala, aproveitando que reside nas proximidades da Câmara. Lá estão gravações, documentos e arquivos que contam a história do Legislativo da Capital.

À luz de lanterna, no prédio que já não tinha energia elétrica, Cláudia passou o dia colocando os objetos em locais que a água possivelmente não atingiria. Muito foi salvo, mas conta que, como estava sozinha, não conseguiu resgatar as memórias mais pesadas, como os 3 mil DVDs encharcados de um conjunto com cerca de 15 mil, além de outros arquivos.

De um acervo de 15 mil DVDs com gravações históricas, 3 mil foram encharcados pelas enchentes de maio De um acervo de 15 mil DVDs com gravações históricas, 3 mil foram encharcados pelas enchentes de maio | Foto: Ricardo Giusti

Os livros, pastas e documentos, que foram molhados, estão em uma sala atrás do restaurante da Casa aguardando um destino breve para que possam ser salvos. Para isso, uma equipe de servidores administrativos do Legislativo trabalha diariamente no acervo.

Também funcionária do memorial, Maria Clara Bastos prevê que o trabalho de recuperação não será fácil. A ideia principal é contratar uma empresa para congelar os arquivos e evitar que os fungos se proliferem ainda mais, conta. Já foi aberta uma licitação, mas o processo engatinha. Outra ideia é usar radiação para recuperar parte do acervo, mas isso exigiria que o material fosse transportado para São Paulo, onde o trabalho é realizado por especialistas.

Congelamento ou radiação são medidas que podem ser tomadas para salvar arquivos históricos da Casa Congelamento ou radiação são medidas que podem ser tomadas para salvar arquivos históricos da Casa | Foto: Ricardo Giusti

Maior gasto deve ser com o restabelecimento da energia elétrica

Para o presidente do Legislativo, o mais afetado pelas inundações foi a subestação de energia que abastece o prédio. Ele fala que, com otimismo, será recuperado em 45 dias, ou seja, apenas na volta do recesso parlamentar.

Um dos engenheiros da Casa, Paulo Rogério Aumond estima, ainda sem uma avaliação oficial, que os gastos apenas com o transformador da subestação serão acima dos R$ 100 mil. No total, avalia que deve passar dos R$ 500 mil. O conserto do transformador será feito em Santa Catarina, em empresas especializadas na secagem do equipamento.

Conserto da subestação de energia elétrica do Palácio será o maior gasto, prevê o presidente Mauro Pinheiro Conserto da subestação de energia elétrica do Palácio será o maior gasto, prevê o presidente Mauro Pinheiro | Foto: Ricardo Giusti

Até lá, a atividade parlamentar segue híbrida, já que os gastos com o gerador contratado são altíssimos. Apenas às segundas e quartas-feiras, dias de sessão plenária, o trabalho dos vereadores é presencial, em horário limitado das 9h30 até às 19h. Nos demais dias, o gerador funciona das 10h às 17h, com expediente exclusivo interno.

No plenário, o clima difere do restante do prédio. Em ano de eleições municipais, que impactam diretamente os vereadores, desde a volta ao fluxo normal de sessões, as movimentações são intensas. Nem tão cheias como de costume, mas não vazias, as galerias presenciam os esforços dos parlamentares voltados para ações pós-enchentes, comumente interrompidos por discussões polêmicas de assuntos nacionais.

Link:https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/pol%C3%ADtica/alagamento-da-c%C3%A2mara-de-porto-alegre-destruiu-arquivos-hist%C3%B3ricos-1.1503366