7 de janeiro de 2025

Chamada para artigos - Dossiê "Imagens em Risco: Acervos e Memórias em Tempos Difíceis" - Primeiro semestre 2025


A Revista Sillogés - http://historiasocialecomparada.org/revistas/index.php/silloges/ - anuncia a chamada de trabalhos para o dossiê Imagens em Risco: Acervos e Memórias em Tempos Difíceis proposto pelo Profa. Dra. Andrea Bachettini (UFPel), Profa. Dda. Dóris Couto (SEM/RS) e Profa. Dra. Luciana de Oliveira (GT Acervos/ANPUH-RS).

O prazo para envio de artigos para o dossiê é 31.05.2025 

Contamos com sua colaboração através de artigos ou resenha relacionados a essa importante temática de nossa historiografia. Lembramos que a Sillogés recebe também artigos e resenhas de diferentes temas em fluxo contínuo.

Abaixo, mais detalhes sobre a proposta de dossiê. 

 

Chamada de trabalhos: Imagens em Risco: Acervos e Memórias em Tempos Difíceis

No dia 08 de janeiro de 2023, em um dos maiores atentados contra a democracia brasileira, grupos terroristas invadiram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal, em Brasília, na tentativa de consolidar um golpe contra o novo governo federal e suas estruturas. Nesse mesmo dia 08, conforme noticiado e veiculado pela mídia, diversos objetos de valor histórico e artístico foram vandalizados e parcialmente destruídos.

Em maio de 2024, o Rio Grande do Sul foi assolado por uma das mais terríveis enchentes de sua história. As perdas foram – e ainda estão sendo - imensuráveis. Ruas, casas, espaços de memória ficaram totalmente submersos em águas que não eram apenas das chuvas e rios. Vidas foram perdidas. E muitos acervos e histórias também.

Os atentados de 2023 e a catástrofe climática que destruiu parcialmente o Estado do RS em 2024 são dois eventos distantes no tempo e nas causas. Se aproximam, porém, quando se observa de perto o que foi, dentre muitas coisas, afetado: o patrimônio histórico, artístico e cultural. Nesse sentido, o dossiê Imagens em risco: acervos em tempos difíceis visa congregar textos que discutam o papel das imagens, bem como a sua destruição, em contextos amplos de crise e negacionismo. Visa, igualmente, problematizar as novas imagens produzidas nesses momentos, seja pelo viés fotojornalístico seja pelas lentes amadoras, e considerar como elas dialogam e se relacionam com as narrativas construídas sobre tais fatos.

Por outro lado, análises centradas na recuperação tanto dos acervos visuais quanto das imagens são de grande interesse ao dossiê que ora se propõe. O trabalho de conservação e restauração tem sido de fundamental importância nesses contextos, uma vez que, a partir dele, muitos objetos que se entendiam perdidos, ganharam sobrevida. Nesse aspecto, também são válidas as reflexões sobre o cotidiano de ações de profissionais de diferentes áreas que, com suas expertises, foram incansáveis da recuperação de acervos e imagens.

No contexto dos tempos difíceis, onde a destruição acidental ou proposital da história e da memória se tornam recorrentes, é de grande importância refletir sobre os demais acervos que se perdem – e muitas vezes são salvos – em desastres climáticos ou por questões de ordem política e ideológica. Assim, é de interesse do presente dossiê, também, a publicação de análises e relatos sobre salvamento, resgate, recuperação ou perda de acervos documentais, tridimensionais e bibliográficos. Mesmo que não esteja centrado no tema das imagens, a sobrevivência destes, em sua integridade e originalidade, muitas vezes estão nelas registradas.

Para que se possa refletir amplamente sobre a relevância do tema proposto, serão muito bem recebidos textos que apresentem todas essas questões em diferentes tempos e contextos. Da mesma forma, relatos de experiência e/ou problematizações dos objetos visuais serão de grande valia e importância ao dossiê.

As imagens portam memórias. Transitam e dialogam no tempo. São suportes que, como discute Didi-Huberman, nós vemos e, ao mesmo tempo, nos olha. Nos faz refletir sobre nosso tempo e os tempos de sua produção. Quando se vivenciam momentos em contextos difíceis, de crise e abalos, sejam eles de ordem política, cultural ou ambiental, as imagens ressurgem, como elementos fantasmáticos, para assombrar e relembrar sua própria especificidade. E as especificidades do tempo em que se vive. É quando se olha e se reconfigura o passado e o presente. A imagem, destruída, evoca o tempo presente em suas cicatrizes.  Seus acervos, resgatados, emergem como marcos de um tempo em seu devir.


Créditos das imagens: Acima à esq. Incêndio Museu Nacional (2018), Acima à dir. Inundação do Museu Visconde de São Leopoldo provocada pela catástrofe climática de maio de 2024. Abaixo à esq. Parceria entre IPHAN e UFPel para recuperação das obras artísticas danificadas nos episódios de vandalismo de 08 de janeiro de 2023. Abaixo à dir. Tratamento acervo do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) atingido pela catástrofe climática de maio de 2024. Arte sobre imagens.