O prazo para envio de artigos para o dossiê é 31.05.2025
Contamos com sua colaboração através de artigos ou resenha relacionados a essa importante temática de nossa historiografia. Lembramos que a Sillogés recebe também artigos e resenhas de diferentes temas em fluxo contínuo.
Abaixo, mais detalhes sobre a proposta de dossiê.
Chamada de trabalhos: Imagens em Risco: Acervos e Memórias em Tempos Difíceis
No dia 08 de
janeiro de 2023, em um dos maiores atentados contra a democracia brasileira,
grupos terroristas invadiram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o
Supremo Tribunal Federal, em Brasília, na tentativa de consolidar um golpe
contra o novo governo federal e suas estruturas. Nesse mesmo dia 08, conforme
noticiado e veiculado pela mídia, diversos objetos de valor histórico e
artístico foram vandalizados e parcialmente destruídos.
Em maio de 2024,
o Rio Grande do Sul foi assolado por uma das mais terríveis enchentes de sua
história. As perdas foram – e ainda estão sendo - imensuráveis. Ruas, casas,
espaços de memória ficaram totalmente submersos em águas que não eram apenas
das chuvas e rios. Vidas foram perdidas. E muitos acervos e histórias também.
Os atentados de
2023 e a catástrofe climática que destruiu parcialmente o Estado do RS em 2024
são dois eventos distantes no tempo e nas causas. Se aproximam, porém, quando
se observa de perto o que foi, dentre muitas coisas, afetado: o patrimônio
histórico, artístico e cultural. Nesse sentido, o dossiê Imagens em
risco: acervos em tempos difíceis visa congregar textos que discutam o
papel das imagens, bem como a sua destruição, em contextos amplos de crise e
negacionismo. Visa, igualmente, problematizar as novas imagens produzidas
nesses momentos, seja pelo viés fotojornalístico seja pelas lentes amadoras, e
considerar como elas dialogam e se relacionam com as narrativas construídas
sobre tais fatos.
Por outro lado, análises centradas na recuperação tanto dos acervos visuais quanto das imagens são de grande interesse ao dossiê que ora se propõe. O trabalho de conservação e restauração tem sido de fundamental importância nesses contextos, uma vez que, a partir dele, muitos objetos que se entendiam perdidos, ganharam sobrevida. Nesse aspecto, também são válidas as reflexões sobre o cotidiano de ações de profissionais de diferentes áreas que, com suas expertises, foram incansáveis da recuperação de acervos e imagens.
No contexto
dos tempos difíceis, onde a destruição acidental ou proposital da
história e da memória se tornam recorrentes, é de grande importância refletir
sobre os demais acervos que se perdem – e muitas vezes são salvos – em
desastres climáticos ou por questões de ordem política e ideológica. Assim, é
de interesse do presente dossiê, também, a publicação de análises e relatos
sobre salvamento, resgate, recuperação ou perda de acervos documentais,
tridimensionais e bibliográficos. Mesmo que não esteja centrado no tema
das imagens, a sobrevivência destes, em sua integridade e
originalidade, muitas vezes estão nelas registradas.
Para que se
possa refletir amplamente sobre a relevância do tema proposto, serão muito bem
recebidos textos que apresentem todas essas questões em diferentes tempos e
contextos. Da mesma forma, relatos de experiência e/ou problematizações dos
objetos visuais serão de grande valia e importância ao dossiê.
As imagens
portam memórias. Transitam e dialogam no tempo. São suportes que, como discute
Didi-Huberman, nós vemos e, ao mesmo tempo, nos olha. Nos faz refletir sobre
nosso tempo e os tempos de sua produção. Quando se vivenciam momentos em
contextos difíceis, de crise e abalos, sejam eles de ordem política, cultural
ou ambiental, as imagens ressurgem, como elementos fantasmáticos, para
assombrar e relembrar sua própria especificidade. E as especificidades do tempo
em que se vive. É quando se olha e se reconfigura o passado e o presente. A
imagem, destruída, evoca o tempo presente em suas cicatrizes. Seus
acervos, resgatados, emergem como marcos de um tempo em seu devir.
Créditos das imagens: Acima à esq. Incêndio Museu Nacional (2018), Acima à dir. Inundação do Museu Visconde de São Leopoldo provocada pela catástrofe climática de maio de 2024. Abaixo à esq. Parceria entre IPHAN e UFPel para recuperação das obras artísticas danificadas nos episódios de vandalismo de 08 de janeiro de 2023. Abaixo à dir. Tratamento acervo do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) atingido pela catástrofe climática de maio de 2024. Arte sobre imagens.