26 de junho de 2021

Chamada para artigos: Dados, Internet e Acervos - Revista Sillogés

 Prezadas(os) colegas!

A Revista Sillogés - http://historiasocialecomparada.org/revistas/index.php/silloges/ - anuncia a chamada de trabalho para o dossiê Dados, Internet e Acervos proposto pelo Prof. Leonardo Barleta (Standford University), Profa. Dra. Mariana F. C. Thompson (Universidade Federal de Santa Maria) e Prof. Dr. Tiago Luís Gil (Universidade de Brasília).

O prazo final para o dossiê é 15 de Outubro de 2021.

Contamos com sua colaboração através de artigos ou resenha relacionados a essa importante temática de nossa historiografia. Lembramos que a Sillogés recebe também artigos e resenhas de diferentes temas em fluxo contínuo.

Abaixo, mais detalhes sobre a proposta de dossiê.


"Devemos somente fazer de conta que não existe?", perguntava Serge Noiret aos historiadores no longínquo 2008, referindo-se a Wikipedia.* A pergunta poderia ser estendida ao conjunto da internet e à relação entre historiadores e informática, de modo geral. Os historiadores aprenderam a amar os sites de Arquivos, Bibliotecas e páginas de livros online (legais e piratas), ou seja, a forma digital mais semelhante ao mundo analógico. Contudo, ainda demonstram resistência em relação à produção e disseminação de conteúdos via internet. Essa resistência está relacionada ao fato de que, mesmo para gerações nativas digitais, a familiaridade com a dimensão digital advém de uma iteração de outra ordem, que não é relacionada à profissão propriamente. O que se reforça pela quase ausência do tema "História digital" e seus desdobramentos no percurso formativo dos graduando em História. Percebe-se que, ainda hoje, aqueles que seguiram por esse caminho metodológico o fizeram por iniciativa pessoal, desbravando e aprendendo por conta própria o manuseio de softwares e demais recursos informáticos. Contudo, a rigor, parece que ainda não percebemos que a produção de conhecimento histórico com uso de recursos digitais não diz respeito apenas aqueles que se propõe a construir bancos de dados com softwares, mas a todos que acessam fontes digitalizadas ou as produzem fotografando fontes nos arquivos para  leitura e análise posterior nos seus computadores particulares. Dificilmente alguma pesquisa historiográfica na atualidade se furte a esse recurso.

A questão da digitalização de documentos, bem como a organização e salvaguarda dos documentos nato digitais, configura um tema central da nossa disciplina, entretanto temos nos ausentado de forma preocupante desse debate, uma vez que uma má gestão dessas fontes  pode implicar em perdas, extravios e falhas técnicas. O engajamento técnico de profissionais da História é fundamental para garantir que o material digital ou digitalizado e disponível para amplo acesso tenha credibilidade para pesquisa. 

Não é mais possível deter nem retroceder esse movimento de inclusão das tecnologias de informação no fazer historiográfico e a demanda para tal já nos é posta desde há muitas décadas. Nos anos 1970, Certeau já revelava sua preocupação com o contexto particular no qual a história seriada se destacava muito preocupada em inventariar uma quantidade indefinida de informações que, tratadas através de programas informáticos, produziriam unidades de compreensão a priori. Nesse sentido, nossa atenção também se volta para a questão de que a pesquisa necessita pautar-se por um problema a ser respondido, pela escolha de critérios e referências - teoria e técnica - o que não seria contemplado apenas por meio do arrolamento maciço (por mais consistente e de fôlego que fosse) de informações.


Nossa proposta é dar espaço para as questões técnicas e, especialmente, discutir o peso imenso das teorias nas escolhas de solução vindas da informática, visível mormente para quem domina as últimas, abrindo diálogo para a discussão das técnicas de organização de dados, suas consequências explicativas e, mesmo, políticas. Ao mesmo tempo, queremos discutir um problema cada vez mais premente: a utilização de conteúdos web de modo inteligível ao estudioso. A internet não é como uma grande biblioteca onde os livros estão previamente organizados e catalogados. Ao contrário, ela é um sistema caótico com ilhas de organização e algumas grandes lunetas (os buscadores, como o Google) que nos permitem encontrar certas coisas, sempre a partir dos interesses de quem construiu a luneta. Devemos fazer de conta que não existe? Se a resposta for negativa, que ferramentas precisamos para dar ordem ao webcaos? Este dossiê está em busca de respostas para estas questões, aguardando por artigos que explorem recursos e ferramentas de organização de dados online e offline, alinhavando sempre teoria e técnica.

*NOIRET, Serge. Wikipedia e storia: dobbiamo fare soltanto finta che non esista?, Workshop di Informatica umanistica. Strumenti collaborativi e scrittura storica nel web 2.0 Firenze, Fevereiro de 2008

Créditos da imagem: Yakov Hallil, The Mayan Language has been Decoded, 1962. Image: The Lumière Brothers Center for Photogtaphy, Moscow.